(Ricardo Reis)
Ven a sentarte conmigo, Lidia
Ven a sentarte conmigo, Lidia, a la orilla del río.
Sosegadamente miremos su curso y aprendamos
que la vida pasa, y no tenemos las manos enlazadas.
_____________ (Enlacemos las manos).
Después pensemos, niños adultos, que la vida
pasa y no se queda, nada deja y nunca regresa.
Va hacia un mar muy lejano, hacia el pie del Hado,
_____________ más lejos que los dioses.
Desenlacemos las manos, porque no vale la pena cansarnos.
Ya gocemos, ya no gocemos, pasamos como el río.
Más vale saber pasar silenciosamente
_____________ y sin grandes desasosiegos.
Sin amores ni odios, ni pasiones que levanten la voz,
ni envidias que den demasiado movimiento a los ojos,
ni cuidados, porque si los tuviera el río siempre correría,
_____________ y siempre se dirigiría al mar.
Amémonos tranquilamente, pensando que podríamos,
si quisiéramos, intercambiar besos, abrazos y caricias,
pero que más nos vale estar sentados uno junto al otro,
_____________ escuchando correr el río y viéndolo.
Recojamos flores, cógelas tú y déjalas
en el regazo, y que su perfume suavice el momento.
Este momento en que sosegadamente no creemos en nada,
_____________ paganos inocentes de la decadencia.
Al menos, si yo fuera sombra antes, te acordarás de mí después,
sin que mi recuerdo te duela o te hiera o te mueva,
porque nunca enlazamos nuestras manos, ni nos besamos
_____________ ni fuimos más que niños.
Y si antes que yo llevaras el óbolo al barquero sombrío,
nada tendré que sufrir al acordarme de ti.
Me serás suave a la memoria recordándote así, a la orilla del río,
_____________ pagana triste y con flores en el regazo.
→Fernando Pessoa. Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio (arquivopessoa.net)
Traducción de Enrique Gutiérrez Miranda
∼
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio
Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.
Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos
Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.
(Enlacemos as mãos).
Depois pensemos, crianças adultas, que a vida
Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa,
Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,
Mais longe que os deuses.
Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos.
Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio.
Mais vale saber passar silenciosamente
E sem desassossegos grandes.
Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz,
Nem invejas que dão movimento demais aos olhos,
Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,
E sempre iria ter ao mar.
Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos,
Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e caricias,
Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro
Ouvindo correr o rio e vendo-o.
Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as
No colo, e que o seu perfume suavize o momento —
Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,
Pagãos inocentes da decadência.
Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois
Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova,
Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos
Nem fomos mais do que crianças.
E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio,
Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti.
Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,
Pagã triste e com flores no regaço.